21 de setembro de 2014 – 25º Domingo do Tempo Comum Ano A

A Liturgia da Palavra deste 25º Domingo do Tempo Comum recorda-nos que Deus não olha tanto para o que se faz, mas para o coração com que se faz. Só Ele paga retamente. É por isso que, apesar das nossas fraquezas e infidelidades, nos abeiramos da Eucaristia, na certeza de que Deus também olhará para nós e nos convidará para a Sua vinha.

«O Senhor está perto de quantos O invocam» (Sal 145, 18)

A parábola dos trabalhadores da vinha tenta mostrar a maneira de como se deve receber o Reino, que vem até nós como oferta gratuita da parte de Deus.

Situada imediatamente depois da recusa do jovem rico ao chamamento de Jesus e da pergunta de Pedro sobre a recompensa, esta parábola quer propor uma nova forma de pensar a questão da posse. A sociedade comercial estabeleceu suas leis a partir do preço. O trabalho entra como uma mercadoria quantificável. Jesus tenta estabelecer outro critério de avaliação, fundamentado não mais no preço (valor comercial), mas na gratuidade e no dom.

Este modo diferente de como Deus age perante os comportamentos vigentes no âmbito comercial, é descrito no salmo com as expressões «clemência», «compaixão», «paciência», «misericórdia» (v. 8), «bondade», «ternura» (v. 9) e «proximidade» (v. 18). Esta forma de comportamento mostra o especifico do Deus «rico em perdão» e a distância que existe entre seus caminhos e os caminhos dos homens.

«Os últimos serão os primeiros» (Mt 19, 30)

A passagem evangélica está situada entre uma repetição do ensinamento sobre os primeiros e os últimos. A frase «os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» (Mt 19,30 e 20,16) implica num contraste total com os critérios existentes. Com ela reforça-se a ideia que se devem instalar na consciência humana critérios diversos dos vigentes e que se deve aceitar que quem trabalhou menos receba o mesmo pagamento, já que o Reino é um dom gratuito, não quantificável e nem proporcional ao esforço realizado. Para isso a parábola fala de um proprietário e de sua vinha. Para os ouvintes de Jesus a relação entre Deus e seu povo surgia de forma natural. Os profetas tinham falado da relação entre Deus e o Seu povo com os mesmos termos (cf. Is 5,1-7; Jr 2,21; Ez 15,6-8). Mas imediatamente parece ampliar-se a perspectiva quando se fala que o trabalho a ser realizado naquele campo está aberto a estranhos, «que estavam na praça sem trabalho». A única condição exigida para participar da tarefa era ser convidado pelo «proprietário» (vv. 1 e 11). A preocupação deste é oferecer trabalho a todos os que estão desempregados.

A novidade de critério fica bem clara na hora do pagamento. Os últimos convidados recebem o mesmo pagamento que fora combinado com os que chegaram à primeira hora.

Os da primeira hora pensam, conforme os critérios sociais vigentes, que poderiam receber uma soma maior e sua desilusão é grande quando recebem o mesmo salário. A sensação de injustiça surge naturalmente quando quantificamos o valor das nossas acções. Tentamos assim determinar o valor salvífico dos nossos méritos de acordo com o tempo que dedicamos à tarefa. Aqui se revela o erro dos primeiros trabalhadores. Na dinâmica vigente no Reino não importam os méritos que possamos ter, mas é necessário aceitar o convite como uma graça que pode ser partilhada com outros.

Este é o Evangelho da graça que Paulo proclama na segunda leitura, quando diz que seu «viver é Cristo». E esta é a resposta que o Senhor da vinha dá aos trabalhadores descontentes da primeira hora.

Nessa resposta fica claro o significado da gratuidade e da liberalidade de Deus. O mesmo dom extraordinário e gratuito é oferecido a todos. No Seu desígnio salvador, Ele aproxima-Se, sem fazer acepção, de todos os seres humanos.

«Para mim, viver é Cristo» (Fil 1, 21)

O trabalho da vinha consiste em viver a sua vida. Comportando-nos de maneira digna do Evangelho, faremos um trabalho frutuoso. Para isso, temos de conformar critérios e opções à sua imagem e semelhança, morrendo para os nossos egoísmos e preferências. Vai Cristo connosco na mesma luta, suportando o peso do dia e do calor. Vive connosco de modo muito especial na Eucaristia, reserva de amor, que deixou entre os homens. Na Eucaristia sabemos que o lucro inesperado, para atém de toda a justiça, é Cristo que se nos dá.

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