15 de agisto de 2019 – Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria

Celebramos hoje o mistério da Assunção de Maria em Corpo e Alma glorificados ao Céu.

Pio XII propôs a toda a Igreja como doutrina irreformável de fé esta verdade acerca de Nossa Senhora, com as seguintes palavras:

«Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus omnipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do Seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos S. Pedro e S. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial». (Pio XII, Bula Munificentíssimus Deus, n.º 44, 1 de Novembro de 1950).

Elevemos o nosso pensamento e coração ao Céu, para tomarmos parte na glorificação de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, que os Anjos e os santos lhe prestam, na presença da Santíssima Trindade.

 

1. Maria, Arca da Nova Aliança

a) Maria, Sinal da benevolência de Deus. «Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade.»

A visão do Apocalipse – que também se pode referir à Igreja – está cheia de alusões ao mistério da Assunção da Virgem Santa Maria ao Céu que hoje celebramos.

• A Cheia e graça. O resplendor desta visão celeste alude a Maria, “a cheia de graça”. Dizer assim é o mesmo que proclamá-l’A Imaculada, Aquela que recebeu a participação da natureza divina – a graça santificante – no primeiro momento da sua existência.

Assim foi saudada pelo Arcanjo, na manhã da Anunciação; assim A contemplou Bernardete em Lurdes e os três Pastorinhos em Fátima. Assim a definiam: “Era uma Senhora mais brilhante que o sol.”

Está revestida de Deus, da Sua graça que recebeu deste o primeiro instante da sua Imaculada Conceição.

É para nós um apelo à santidade de vida, à felicidade, procurando estar em graça e fazer a vontade de Deus.

• Rainha e Senhora de toda a criação. Ter a lua debaixo dos pés significa domínio, realeza. É Rainha porque é Mãe do rei; além disso, tomou parte, como nenhuma outra criatura, na recondução do mundo aos planos do seu Criador.

Por isso, na Ladainha, invocamo-l’A como Rainha dos Anjos, dos Patriarcas, dos Profetas, dos Apóstolos, dos Mártires… da Família.

A Realeza de Maria é o melhor e mais generoso dos serviços a todos nós, que somos seus súbditos.

Quiseram especialmente celebrar esta condição de Maria como Rainha os reis de Portugal, que A proclamaram Rainha deste “jardim à beira mar plantado” e que, a partir de 1640, nunca mais ousaram colocar na sua cabeça a coroa real.

Por provisão de 25 de Março de 1646, D. João IV, “estando ora junto em Cortes os três Estados do reino», proclamou solenemente “tomar por padroeira de nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição… confessar e defender Mãe de Deus foi concebida sem pecado original”. Por esta proclamação a Virgem Imaculada era constituída e declarada, por todos os poderes da Nação, Senhora e Rainha de Portugal, a verdadeira soberana do país.

• Mãe da Igreja. A maternidade de Maria é dolorosa, porque tem de defender constantemente os seus filhos atacados pela serpente infernal com brutal ferocidade.

• Mãe do Redentor. Maria é Mãe de Jesus, do Redentor do mundo. «Ela teve um filho varão, que há-de reger todas as nações com ceptro de ferro.»

b) À frente do exército do Senhor. «E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete diademas. A cauda arrastava um terço das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra.»

Está profetizado no Livro do Génesis. Quando Deus veio procurar Adão e Eva para lhes oferecer a salvação, anunciou solenemente: «Estabelecerei inimizades entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência d’Ela. Ele esmagar-te-á a cabeça e tu armarás ciladas ao seu calcanhar.» (Gen 3, 15).

Satanás vomita o seu ódio contra Deus em cada um de nós, promovendo, para nós, uma vida infeliz no mundo: guerras, atentados, ódios, roubos, assassinatos.

Quando ouvimos notícias de tantos crimes, quase nunca nos lembramos que todas estas pessoas se colocaram ao serviço do Demónio, transformando-se em demónios à solta.

Para além dos crimes que a Comunicação Social nos noticia, há os muitos pecados que escravizam as pessoas e as empurram para o inferno.

É uma guerra contra Deus que o demónio promove no mundo, vingando-se, nas pessoas do seu furor e ódio ao Altíssimo.

Depois da queda dos nossos primeiros pais, Deus revelou-nos a existência de uma guerra que se trava no mundo entre os filhos de Deus e os que se entregaram à serpente. À frente do exército do Povo de Deus está uma Mulher que o Pai escolheu para Mãe de Seu Filho incarnado.

Combatem ao lado de Maria os que ajudam os seus irmãos no caminho da Salvação, praticando a caridade sob todas as formas.

Do outro lado, servindo a Satanás, estão os escandalosos e aqueles que procuram arrastar ao pecado as outras pessoas.

A arma mais perigosa e mais usada pelo Inimigo é a mentira, tentando convencer-nos de que deseja e procura a nossa felicidade, ao mesmo tempo que nos apresenta Deus como inimigo da nossa felicidade e liberdade. Ele é, como disse Jesus, «o pai da mentira.»

c) Para nos conduzir à felicidade. «E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido!.»

Maria é a melhor das Mães que deseja ver todos os seus filhos que somos nós, radiantes de felicidade à sua volta no Céu.

Terminado este tempo de prova, não haverá mais tentações, inimizades, luto e morte, porque o Céu é a felicidade definitiva, para sempre.

Ao olharmos hoje em espírito para o Céu, onde contemplamos a glória da Mãe de Jesus e nossa fé, reafirmamos a nossa profissão desta verdade eterna: a vida presente é um tempo de prova; o prémio será a participação da mesma felicidade de Deus no Céu, para sempre.

Diz o Apocalipse: «Deus enxugará dos seus olhos todas as lágrimas.» E S. Paulo elevado ao Céu em vida, na impossibilidade de nos explicar convenientemente o que viu, exclama: «Nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem passou pela mente do homem o que Deus tem preparado para aqueles que O amam.»

Quando afirmamos que Maria foi elevada ao Céu gloriosa, em corpo e alma, não queremos apenas dizer que Ela já está no Céu. À imitação de Jesus Cristo, que foi revestido de glória imortal ao terceiro dia, saindo glorioso do sepulcro, também é «dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial.»

É nesta felicidade que Nossa Senhora se encontra e é para ela que deseja conduzir-nos, neste nosso caminhar pela terra até ao Céu.

Deus estabeleceu que Maria fosse o caminho mais seguro e mais fácil para Jesus, de tal modo uma pequena devoção em honra dela é como um pequeno acendalho que em breve dará origem a uma grande incêndio de Amor.

A felicidade começa nesta vida pela escolha e Deus. Os que tapam os ouvidos às mentiras de Satanás e procuram no amor de Deus a verdadeira felicidade, encontram-na, para si e para os outros.

2. O caminho da glorificação

Maria, elevada ao Céu em corpo e alma, convida-nos, com peculiar insistência neste dia de festa, a aprender com Ela o caminho para a nossa glorificação final.

a) Serviço de caridade. «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.»

Maria recebeu do Arcanjo a boa nova de que Isabel iria finalmente ter um filho e que estava já no sexto mês da gestação.

Partiu apressadamente – a caridade não é vagarosa e lenta, porque quem dá, fá-lo com alegria e exultação – para Ain Karim, a cerca de uma dezena e quilómetros de Jerusalém e, portanto, a mais de uma centena de Nazaré.

• Caridade e naturalidade. Vai felicitar Isabel, pelo dom de Deus que acaba de receber, levar a santificação – equivalente ao Baptismo – a João Baptista, ainda no seio materno e pôr-se à sua disposição para tomar conta do serviço doméstico, uma vez que Isabel, dado o estado em que se encontrava e a idade avançada, teria muita dificuldade em o fazer, e pega um incêndio de alegria naquela família: Isabel cantou com felicidade e o Menino exultou de alegria no seu seio.

A caridade que tem a marca de Deus é mesmo assim: reveste-se de naturalidade, fugindo do espectáculo e não encarece o dom que vai oferecer.

• Caridade e fé. No segredo desta generosidade de Maria está a fé e Isabel apercebe-se disso: «Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: “[…]. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor”.»

Na verdade, pelo sim proferido na Anunciação, Maria entrega todo o seu presente e futuro nas mãos de Deus. Não põe perguntas desconfiadas, não hesita, mas lança-se nos braços de Deus como uma criança nos da mãe.

• Caridade e sacrifício. Nem sempre é agradável viver a virtude da caridade. Ela submete-nos, por vezes a muitas incomodidades. Não deve ter sido agradável para Maria deixar todas as suas preocupações de lado, num momento da sua vida, e submeter-se aos incómodos de uma longa caminhada para felicitar e servir a sua parente.

Imaginamo-la a entrar as portas daquela casa, não com o ar de quem vem trazer uma esmola, mas como quem faz a coisa mais agradável da vida.

Poderíamos ser tentados a pensar que temos necessariamente de encontrar consolação humana nas obras de caridade e ficamos chocados se nos recebem mal se não nos agradecem, se ficam indiferentes como se nada tivessem recebido. A recompensa da caridade não nos vem das pessoas, mas de Deus.

b) Portadores da alegria. «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: “[…] logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio.”»

• A verdadeira alegria. Nossa Senhora levou a casa de Isabel a verdadeira alegria que brota da nossa filiação divina e contagiou Isabel, o menino ainda no seu ventre e todas as demais pessoas ali presentes.

Muitas vezes somos tentados a pensar que a alegria é incompatível com a existência de problemas, de cruz. No momento em que visita Isabel, além da normal fadiga da viagem, a vida de Maria está complicada. Teve de mudar o rumo dos seus planos, porque não esperava este convite de Deus. Não sabe como José vai reagir perante a sua gravidez em que ele não interveio.

Os quadros e grupos escultóricos que reproduzem o encontro de Maria com Isabel costumam apresentar-nos quatro figuras: a Mãe de Deus e a de S. João Baptista; e mais dois homens, um de cada lado, contemplando atentamente a cena. Um é sem dúvida Zacarias; o outro será José que deve ter acompanhado Maria nesta longa viagem, integrados numa dessas caravanas que atravessavam o país.

Se isto é verdade, José ouviu Isabel tratar Maria como “Mãe do meu Senhor” e Ela não protestou contra esta afirmação, dizendo que era mentira. A partir daqui, José entra numa prolongada agonia, não porque divide da fidelidade de Maria, mas porque a sua humildade o leva a pensar que está a mais naquele mistério. É um intruso e, portanto, deve retirar-se, embora com toda a cautela, para não difamar Maria.

Maria, Inteligentíssima e atenta deve-se ter apercebido de tudo isto, mas nada pode explicar, até porque não seria compreendida. A alegria da Mãe de Deus não é isenta de cruz.

• Viver em Deus. Para poder dar aos outros a verdadeira alegria, é preciso possuí-la. Ninguém dá o que não tem.

Deus é a fonte da alegria, amor firme em que nos apoiamos também nos momentos difíceis da nossa vida.

Maria traz o Filho de Deus no seu seio virginal e é Ele que contagia João ainda no ventre de sua mãe.

Viver em Deus significa não só estar na Sua graça, mas fazer todo o esforço possível para corresponder à Sua amizade. De outro modo, a tibieza invade a alma e uma nuvem de tristeza e desolação aparece inevitavelmente no rosto de quem vive neste estado, sem possibilidade de qualquer disfarce.

Maria é a consonância perfeita com a vontade de Deus em todos os momentos da sua vida. É, pois, a alegria perfeita.

c) Humildade e gratidão. «Maria disse então: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.”»

Com o Magnificat que Nossa Senhora canta em casa de Isabel, aprendemos o que é a verdadeira humildade.

Não consiste numa visão negativa, mas verdadeira da vida, reconhecendo a luz e as sombras que possa haver nela.

• Humildade e verdade. Maria tem consciência da sua grandeza única na história da humanidade. «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome.»

Mas, ao mesmo tempo, tem consciência de que tudo nela é obra de Deus. Não reconhecer as riquezas com o Senhor a dotou seria injustiça e mentira. Atribuí-las ao mérito próprio seria também errado.

Maria conjuga perfeitamente estes dois aspectos da sua vida: pequenez pessoal e grandeza pelo que Deus fez.

• Aceitação da verdade. Certas pessoas, quando conhecem os seus defeitos e limitações, revoltam-se ou refugiam-se em grandezas e méritos imaginários.

Maria não tem o mais leve defeito. Mas tem as limitações de toda a criatura – embora seja uma criatura extraordinária, e isto não lhe rouba a paz nem a alegria. Ela canta, feliz, a sua condição no mundo.

• Humildade de Jesus na Eucaristia. Vamos continuar a celebração da Santa Missa. Depois de termos participado na Mesa da Palavra, preparamo-nos agora para participarmos na Mesa da Eucaristia.

Nela encontramos uma proclamação clamorosa da humildade de Jesus. “Na cruz estava oculta a divindade; mas aqui está-o também a humanidade.” (S. Tomás de Aquino, Adoro Te devote). Na verdade, Jesus apaga toda a Sua glória de nosso Deus, toda a Sua dignidade humana e dá-Se-nos como uma alimento vulgar.

Está em silêncio e nem sequer reclama contra as nossas faltas de respeito motivadas pela falta de fé.

Que Maria elevada ao Céu em corpo e alma nos ensine a aprender com Jesus os verdadeiros caminhos da humildade.

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