14 de julho de 2021 –quarta-feira da 15ª Semana do Tempo Comum- Deus revela-se aos simples.

UMA SABEDORIA SUPERIOR

  1. Os simples entendem Deus. Depois das recriminações de Jesus às cidades impenitentes do lago, a passagem evangélica de hoje é de um lirismo refrescante que nos permite entrever timidamente e na ponta dos pés o clima íntimo da oração filial de Jesus: “Dou-te graças, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e doutores e as revelastes às pessoas simples. Sim, Pai, assim te pareceu melhor”.

As “coisas” que Deus revela ou esconde são o significado da obra de Jesus, o conjunto do evangelho do Reino. Os “sábios doutores” são a elite religiosa de Israel, os teólogos e especialistas da lei mosaica, como eram os rabinos e fariseus. Os “simples” são os pequenos e os pobres, os ignorantes e os marginalizados social e religiosamente, que eram objeto do desprezo de escribas e fariseus.

Na pessoa, mensagem e obras de Jesus manifestou-se Deus aos homens; mas só os simples de coração o entendem. O povo vulgar aceitou o evangelho melhor que os seus guias religiosos. Estes confiavam na ciência da lei para conhecer a vontade de Deus e os seus caminhos; por isso não deram com eles. Ao rejeitar Cristo, o revelador do Pai, ficaram com a mente vazia e o coração endurecido.

Tal aceitação e tal rejeição faziam parte do plano previsto por Deus. Jesus não conseguiu fazer-se entender nem aceitar pelos sábios e escribas judeus, como ele mesmo reconhece: “Sim, Pai, assim te pareceu melhor”. Jesus louva o Pai porque os simples entram em comunhão com ele, guiados pelo seu Espírito, que lhes abre o coração e a inteligência â revelação do seu mistério e â boa nova do Reino.

A revelação do mistério de Deus está nas mãos de Jesus porque ele é o único que conhece o Pai: “Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar”. Ambos estão no mesmo plano. Jesus já não é aqui o Filho do homem, mas o Filho de Deus Pai. Cristologia em que também é abundante o evangelho de João. A revelação de que Deus é Pai de Jesus e dos homens é o centro e resumo de toda a boa nova; daí derivam tanto a relação paterna de Deus com o homem como a relação filial deste com Deus.

 

  1. A fé é o saber dos simples. Por disposição do Pai ou, o que é o mesmo, devido à soberba auto-eliminatória de “sábios e doutores”, o Espírito de Jesus não revela o mistério de comunhão com Deus senão aos simples e pequenos que se lhe abrem com um coração humilde o caminho para entender a pessoa e a mensagem de Cristo não é a ciência e a sabedoria, nem sequer o conhecimento da lei e dos profetas, como pretendiam os profissionais da lei judaica, mas a revelação gratuita de Deus aos que ele ama.

O crente acede pela fé a uma sabedoria superior que é o conhecimento de Deus, como explica São Paulo. Para a compreensão das coisas de Deus, segundo Jesus, as pessoas simples têm vantagem inclusivamente sobre os próprios teólogos, se estes são somente sábios auto-suficientes, cheios de orgulho doutrinal. Conforme a constante bíblica, Deus prefere os humildes e simples de coração – sejam sábios ou ignorantes -, que, despojados de si mesmos, se lhe confiam plenamente.

A fé é uma categoria especial de sabedoria, pois não é ciência, mas crença pelo dom de Deus; do mesmo modo que o seu objeto não está ao nível do visível ou demonstrável, mas no plano da experiência vivencial, da comunhão e da opção pessoal. Mas também não carece de base objetiva, pois a fé fundamenta-se na palavra e factos reais da intervenção de Deus, especialmente numa pessoa: Jesus Cristo.

 

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