SENTIDO RELIGIOSO DO HOMEM

O erro mais radical na época atual é considerar-se a exigência religiosa do espírito humano como expressão do sentimento ou da fantasia, ou então como produto duma circunstância histórica que se há-de eliminar como elemento anacrónico e obstáculo ao progresso humano. Ora, é precisamente nesta exigência que os seres humanos se revelam tais como são verdadeiramente: criados por Deus e para Deus, como exclama Santo Agostinho: «Foi para Ti, Senhor, que nos fizeste, e o nosso coração está inquieto até que descanse em ti».

Portanto qualquer que seja o progresso técnico e económico, não haverá no mundo justiça nem paz, enquanto os homens não tornarem a sentir a dignidade de criaturas e filhos de Deus, primeira e última razão de ser de toda a criação. O homem, separado de Deus, torna-se desumano consigo mesmo e com os seus semelhantes, porque as relações bem ordenadas entre os homens pressupõem relações bem ordenadas da consciência pessoal com Deus, fonte da verdade, da justiça e do amor.

É certo que a perseguição desencadeada atualmente, em muitos países, mesmo de civilização cristã contra tantos irmãos e filhos nossos – os quais, exatamente por esta razão, nos são particularmente queridos – põe cada vez mais em evidência a nobre superioridade dos perseguidos e a refinada barbárie dos perseguidores; o que, se não produz ainda frutos visíveis de arrependimento, leva já muitos a refletir.

O aspeto mais sinistro e típico do tempo atual consiste na tentativa absurda de se querer construir uma ordem temporal sólida e fecunda prescindindo de Deus, único fundamento sobre o qual poderia subsistir; e querer proclamar a grandeza do homem, secando a fonte donde ela brota e se alimenta, através da repressão e, se fosse possível, da extinção das aspirações inatas que levam o homem ao encontro de Deus. Todavia a experiência quotidiana, no meio dos desenganos mais amargos e não raras vezes através do testemunho do sangue, continua a mostrar a verdade do que afirma a Sagrada Escritura: «Se não for o Senhor a identificar a casa, em vão trabalham os que a constroem».

Check Also

Igreja/Portugal: Papa nomeia novo bispo da Diocese de Beja

D. Fernando Paiva, até agora vigário-geral em Setúbal, sucede a D. João Marcos Cidade do …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.