O VALOR DA OBEDIÊNCIA

Vivemos numa sociedade em que quase ninguém gosta de obedecer e praticamente todos gostam de mandar. Existem muitas causas para este fenómeno. É precisamente sobre essas causas e sobre o valor da obediência, em contexto familiar, que quero refletir contigo.

A palavra “obediência”, na sua raiz etimológica, significa ouvir com o coração e escutar em profundidade, ou seja, escutar com amor. A palavra “obediência” deriva das palavras latinas ob mais audire, que significam literalmente ouvir aquele que fala em frente a nós. Então, só poderemos ser obedientes quando nos predispomos a ouvir atentamente aquele que nos fala e acreditarmos que ele nos fala com amor.

DIFICULDADE EM OBEDECER

A obediência aos pais é uma tarefa difícil para muitas crianças, adolescentes e jovens. Os filhos das famílias de hoje vivem tempos conturbados, pois pensam que já podem fazer o que entedem sem escutarem ninguém. Acham que já estão preparados para decidirem tudo pela sua própria cabeça, muitas vezes influenciada por tantas pessoas e valores estranhos à família e ao seu projeto educativo.

Quando nascemos, não conhecemos nada nem fazemos nada sozinhos: são os nossos pais que nos alimentam, que nos vestem, que nos dão banho, enfim, que cuidam de nós. Aceitemos isso como normal pois confiamos neles. Ao crescermos, vamos descobrindo coisas importantes e vamos aprendendo pelo que vemos, vivemos e ouvimos. Começamos a tomar algumas decisões sozinhos, como, por exemplo, que roupa vestimos, de que comida gostamos, as atividades que nos interessam, etc., mas ainda não estamos prontos para decidirmos sobre grandes questões, pois ainda não nos deram todas as indicações básicas.

Na adolescência, achamos que já sabemos tudo e que estamos prontos para a vida e é aí que começam a surgir os piores momentos, visto querermos a independência  e acharmos que podemos viver com ela. Nesta luta frenética pela independência e liberdade começam os confrontos com os pais e, muitas vezes, chegamos mesmo a contrariá-los, acabando por cair em teias viciantes e comportamentos perigosos que acabam por roubar toda a liberdade.

DIFICULDADE EM MANDAR

Mas também os pais têm dificuldade em mandar.

Por vezes ficamos com a impressão de que os papeis foram trocados: os filhos mandam e os pais obedecem. Quem não assistiu já a episódios nos quais os filhos, porque insistem ou ate chantageiam os pais com choradeiras histéricas, conseguem o que querem contrariando assim os papeis obrigando-os a ceder e a fazer as suas vontades?

Há em muitos pais um sentimento de culpa [de não serem bons pais] que eles procuram compensar através do consumismo, comprando tudo às crianças, ou pior ainda, «comprando as crianças» para compensar as suas ausências ou falas parentais. Deste modo desestrutura-se a família. Um exemplo é as crianças e adolescentes dormirem e fazerem o que querem, à hora que querem e como querem e ai de quem os contrarie.

Por outro lado, a estrutura frágil ou as dificuldades relacionais de muitas famílias levam a que falte muitas vezes a presença de uma posição forte e concertada por parte dos pais. Os pais, em vez de darem ordens e de traçarem um caminho seguro para os filhos, começam a ceder o palmilhar de outros caminhos, muitas vezes duvidosos e poucos seguros. Os pais devem-se fazer respeitar enquanto pais e enquanto pessoas e, simultaneamente, respeitar os filhos enquanto pessoas mas também enquanto filhos, pessoas por quem eles são responsáveis e a quem devem apresentar um percurso educativo e formativo de acordo com os valores familiares que defendem. Trata-se de uma missão e desafio para os pais: exercerem o dever e a missão de pais sem complexos ou medos, tendo consciência de que a sua missão é preparar os filhos para a autonomia.

OBEDIÊNCIA FUNDADA NO AMOR

Segundo a Bíblia, a obediência só tem sentido na relação amorosa que existe entre Deus e o ser humano: um Deus que chama por amor e um ser humano que responde com amor. Jesus Cristo fez exatamente o mesmo: ao encontrar-se com alguém, primeiro falava com eles, olhava para eles com amor, propunha-lhes um caminho de felicidade e realização e as pessoas ouviam-No atentamente e respondiam-lhe obedecendo, pois Ele falava como quem tinha autoridade.

Uma autoridade baseada e fundada no amor convida e conduz naturalmente a uma resposta obediente. Também nas famílias de hoje a obediência tem de estar alicerçada no amor. Só o amor leva à obediência que não aprisiona mas que liberta.

 

Autor:

Abel Dias

Fonte:

Revista Audácia

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