O que sabe a Igreja do amor?

Sabe muito. O amor é a base da fé cristã sobre Deus, que em Jesus se fez carne para deixar esse mesmo amor como grande mandamento. O amor é uma das três virtudes teologais, mas como lembra São Paulo, está destinado a permanecer quando tudo o mais desaparecer.

No seu breve pontificado, João Paulo I explicava que “amar a Deus é um viajar com o coração para Deus”. Bento XVI repetiu até à exaustão que o Cristianismo não é um “catálogo” de mandamentos ou proibições e no seu mais recente livro-entrevista deixa um testemunho pessoal muito marcante: ““Foi sendo cada vez mais evidente para mim que Deus, Ele próprio, não só não é, digamos, um governante poderoso e uma autoridade distante, mas é Amor e ama-me”.

Serve isto para dizer que muitas vezes estamos a olhar para a Igreja Católica do ângulo errado. Não estou à procura de culpados, mas é evidente que a insistência excessiva (quando não mesmo exclusiva) em conceitos de culpa, em julgamentos, numa linguagem ameaçadora e centrada no Maligno fez com que muita gente não conseguisse identificar o Amor como núcleo da proposta cristã.

A exortação apostólica ‘Amoris Laetitia’ do Papa Francisco desafiava os católicos a voltar a falar do amor, em todas as suas dimensões, com natural relevo para a vida familiar. É pena que, quase um ano depois, o debate se tenha centrado em notas de rodapé e muitos ignorem por completo o conteúdo do 4.º capítulo do documento e o seu comentário ao chamado hino à caridade, escrito por São Paulo. Será ainda um choque, admito, ler num documento pontifício que o ideal do matrimónio não pode configurar-se apenas como uma “doação generosa e sacrificada”, onde cada um renuncia a qualquer necessidade pessoal e se preocupa apenas por fazer o bem ao outro, “sem satisfação alguma”. Por isso mesmo, vale a pena ler, meditar. Para que depois seja possível discernir, acompanhar e responder, sem morrer de medo do que está a acontecer.

 

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

Check Also

Nota Pastoral na comemoração dos cinquenta anos do “25 de Abril”

1. Na comemoração do cinquentenário da Revolução de 25 de Abril de 1974 cabe aos …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.