Hora das decisões

O Sínodo dos Bispos sobre a família encerra um ciclo iniciado há dois anos, com um inquérito que gerou uma participação inédita nas comunidades católicas de todo o mundo. A importância de ouvir antes de decidir é uma dar marcas de um bom líder e, neste caso, fundamental para que o discurso católico sobre a realidade familiar não seja descarnado, abstrato ou distante da vida das pessoas.

Muito se tem insistido na contraposição de opiniões a respeito de vários dos temas abordados, como se estivéssemos diante de um ato eleitoral ou de um processo político.

A resposta “conciliadora” de muitos dos participantes tem passado, várias vezes, por sublinhar a dimensão pastoral, sem colocar em causa a doutrina. Este talvez seja um dos bons exemplos da linguagem “codificada” que muitas vezes sai do interior da assembleia sinodal para a opinião pública, pouco capacitada para distinguir planos teológicos.

Quando se fala em mudança de linguagem, na relação Igreja-Família, é preciso ter em conta que estamos a tratar de muito mais do que uma operação de cosmética. As famílias católicas não podem viver em piloto automático, sem entender o ensinamento da Igreja sobre a sua vida diária, nas mais variadas dimensões, e o discurso teológico tem de conseguir traduzir-se em linguagem corrente, até para evitar ficar prisioneiro de preconceitos e reduções que limitam a sua compreensão e alcance.

Estou certo de que esta preocupação está presente nos debates, que ultrapassam em muito as questões fraturantes e mais mediáticas.

O documento de trabalho deixava aos participantes no Sínodo a recomendação de incluir no discurso familiar da Igreja Católica uma dimensão simbólica, experiencial, significativa, convidativa, aberta, alegre, com esperança e clareza. Mais de 30 anos depois da exortação apostólica ‘Familiaris Consortio’, de São João Paulo II, o processo sinodal tem sido chamado a renovar a reflexão sobre a família, perante realidades muito diferentes e em transformação constante.

Os membros do Sínodo, como recordava um dos participantes, têm como “audiência” o mundo inteiro e têm, por isso, de ultrapassar o “discurso eclesial”, “codificado”, que funciona apenas em circuito interno. Com ou sem expetativas irrealistas, com ou sem pressão mediática, no fim de contas a verdade é que muito se espera, justamente, destas três semanas de trabalho.

Octávio Carmo,

Agência ECCLESIA

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