Cónego Joaquim Cupertino celebra 60 anos de sacerdócio

O cónego monsenhor Joaquim Cupertino completa no próximo dia 14 deste mês 60 anos de sacerdócio, dedicados na sua maior parte à vida militar, sobretudo na assistência espiritual junto dos homens que combatiam pela nação nas antigas colónias.

Natural de São Brás de Alportel, onde nasceu a 25 de agosto de 1929, o cónego monsenhor Luís Cupertino foi para Olhão com um ano de idade, tendo então, por volta dos 6 anos, ido viver para Monchique.

Em 1945 entrou para o Seminário de São José, em Faro, com quase 16 anos, por influência do seu padrinho do Crisma que era prior de Alvor, o padre David Neto.

Frequentou a instituição durante cinco anos e seguiu para o Seminário de Almada para frequentar o 6º ano, que era o primeiro de Filosofia. Os restantes dois anos de Filosofia e mais os quatro de Teologia já foram completados no Seminário dos Olivais, em Lisboa.

Foi ordenado na basílica Nossa Senhora do Rosário de Fátima por D. Francisco Rendeiro, então bispo do Algarve, em 14 de julho de 1957, tendo sido enviado pelo então bispo diocesano para Roma, para se licenciar em Direito Canónico, na Universidade Gregoriana, que frequentou durante dois anos.

De regresso ao Algarve foi nomeado em 1959 vice-reitor do Seminário algarvio, função que desempenhou durante seis anos.

Cedo manifestou ao bispo do Algarve da altura a sua vontade de ingressar na vida militar como capelão. O prelado, simultaneamente com as funções no Seminário de Faro, queria nomeá-lo capelão do Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, no Quartel de Tavira, mas a sua vontade era seguir para África.

Ao fim de seis anos, aquando da sua nomeação para bispo de Coimbra, D. Francisco Rendeiro acabou por lhe fazer a vontade e deixá-lo seguir para a Guiné como capelão militar, onde esteve dois anos, de 1965 a 1967.

Regressado a Portugal, era capelão-mor das Forças Armadas o bispo D. António do Rego Rodrigues que o convidou a passar ao quadro, como capelão titular, mas enquanto isso não aconteceu esteve na Amadora.

Já capelão titular veio para Tavira, prestando também assistência religiosa em Faro e em Lagos no Centro de Instrução de Condutores Auto.

Em dezembro de 1969 foi para Angola como tenente capelão colocado num batalhão de tropa nativa e o mesmo tempo como capelão do comando de agrupamento. Ali permaneceu durante dois anos, até 1972, tendo enfrentado toda a fase da guerra. Apesar disso, o cónego monsenhor Joaquim Cupertino testemunha que “foi mais duro” a missão na Guiné. “Estava num batalhão com três médicos e, quando havia operações de mais de 15 dias, tinha de ir com um deles com a tropa para o mato”, justifica o sacerdote, considerando “ótima” a experiência de assistência aos militares na guerra. “Estive próximo dos homens que combatiam, ficavam feridos e morriam. O meu batalhão da Guiné teve 38 mortos, estando eu junto de muitos deles quando foram feridos. Outros, com ferimentos de minas, eram trazidos imediatamente para o posto médico e o capelão tinha de estar sempre com o médico. Para muitos deles era ajudá-los a morrer ao invés de estar num gabinete, numa cidade, enquanto os homens andavam a combater. O médico fazia o que podia e depois dizia: capelão, agora já não é comigo”, relata, lembrando que viviam em permanente perigo de vida.

Regressado de África foi colocado na Academia Militar em Lisboa, como capelão, professor catedrático de Deontologia Militar e professor catedrático interino de Sociologia do Exército e da Força Aérea.

Tendo vagado o lugar de capelão militar no Algarve, nos quartéis de Tavira, Faro e Lagos, pediu ao capelão chefe do Exército para vir para a sua região natal. Embora não fosse do seu agrado acabou por deixá-lo vir para o Algarve por causa da legislação.
Foi colocado no regimento de Faro, mas dava igualmente assistência a Tavira e Lagos e também às capitanias da Marinha, desde Vila Real de Santo António à Estação Rádio Naval, em Sagres, tendo sido promovido a major.

Entretanto houve em Fátima uma reunião anual de capelães e foi votado como adjunto do capelão-mor das Forças Armadas, por isso esteve apenas um ano no Algarve.

Promovido então a tenente coronel, em 1983, ao fim de um ano e três meses como adjunto do capelão-mor foi nomeado, pelo então bispo castrense, o falecido patriarca D. António Ribeiro, capelão-mor das Forças Armadas que é simultaneamente o vigário geral da diocese castrense para as Forças Armadas e de Segurança. Foi então promovido a coronel e ficou à frente de dezenas de sacerdotes de todas as dioceses e de quase todas as congregações e ordens religiosas portuguesas.

Dois anos antes de se reformar, no final de 1986, D. Ernesto Gonçalves Costa, na altura bispo do Algarve, que acabara de restaurar o Seminário de Faro, nomeou-o reitor da instituição. No entanto, para não perder o direito à reforma, depois de ter servido durante tantos anos os homens que combatiam, acabou por desempenhar essas funções apenas ao fim-de-semana, quando vinha ao Algarve, tendo sugerido o então padre César Chantre, para prefeito e ecónomo da instituição.

Na altura, quando comunicou a D. António Ribeiro que se aproximava a idade da reforma e que tinha sido nomeado reitor do Seminário do Algarve, o patriarca de Lisboa, percebendo a sua saída do patriarcado, pediu ao papa São João Paulo II a sua nomeação de prelado de honra de sua santidade, passando a ter a designação de monsenhor.

Ao cabo de um ano, D. Ernesto Costa, que era também presidente da Comissão Episcopal das Missões, preferiu nomear monsenhor Joaquim Cupertino como diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias, função que foi autorizado a desempenhar pelo então Chefe de Estado-maior das Forças Armadas, Soares Carneiro. Apesar de ser por cinco anos, acabou por estar 12 anos nas Obras Missionárias Pontifícias como diretor nacional.

Em 1987, por provisão de D. Ernesto Costa, foi nomeado cónego do Cabido da Sé de Faro. Em 1994 foi nomeado juiz do Tribunal diocesano do Algarve, por um período de seis anos. Em 2000 foi nomeado juiz do Tribunal Patriarcal de Lisboa e do Tribunal Interdiocesano de Évora, Beja e Algarve, função que ainda desempenha.

De regresso ao Algarve, D. Manuel Madureira Dias, então bispo do Algarve, nomeou-o, no final do mesmo ano, diretor diocesano das Obras Missionárias Pontifícias, assistente do Renovamento Carismático Católico e diretor diocesano do Apostolado de Oração.

A propósito do seu trabalho nas Obras Missionárias Pontifícias garante ter feito o possível “por chamar a atenção da necessidade que há da Igreja portuguesa e de cada diocese de não se fechar sobre si mesma”. “Sempre tentei fazer com que nas dioceses portuguesas o clero se convencesse que o panorama missionário é o mundo inteiro e não a diocese apenas”, afirma, considerando que “quando olhamos apenas para as fronteiras da nossa diocese perdemos a catolicidade, a universalidade” e lembra que há povos “que nunca ouviram falar de Cristo, que adoram falsos deuses, que não sabem que estão redimidos pelo sangue de Cristo e que estão na ignorância religiosa”.

Lembrando “todo o apoio, carinho, ajuda e colaboração” que teve das congregações, movimentos e ordens missionárias, considera que saiu dessa experiência “mais enriquecido e com uma maior panorâmica da Igreja”.

Atualmente, o cónego Joaquim Cupertino colabora com a paróquia matriz de Portimão e, nos últimos tempos, tem estado também a apoiar o vicariato da Pedra Mourinha daquela cidade.

O sacerdote, que completará 88 anos no próximo mês, garante em jeito de balanço que “tem valido a pena”. “Quando a gente trabalha para Deus ele recompensa mais do que a gente pensa”, sustenta.

Para assinalar os 60 anos da ordenação sacerdotal será celebrada uma eucaristia de ação de graças no próximo dia 14 deste mês, às 19h, na igreja matriz de Portimão, presidida pelo bispo do Algarve.

 

 

Fonte: https://folhadodomingo.pt

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