Amar a Deus e ao próximo (Lc 10,29-37; Gal 5-13)

  1. A Revelação diz-nos que o sentido da nossa vida, a nossa razão de ser, é amar e a vocação comum é amar bem o que significa que está ao alcance de todos os seres humanos no tempo e na eternidade. O resumo da lei consta em amar a Deus e o próximo incondicionalmente: com toda a inteligência, o que significa a aplicação intelectual persistente a apurar quem é, com todo o coração, ou seja com a total capacidade de amar nos serviços que prestamos.

O Antigo Testamento faz 33 referências, das quais 12 no Deuteronómio alternando temor e amor. Mas o amor impõe-se? Fará sentido obrigar alguém a amar? Parece que a afeição não se impõe.

  1. O amor a Deus não é idílio afetivo mas ato racional de busca esforçada de procura e de resposta. Esta orientação séria e persistente é amor deliberado a este Deus escondido (cf.Is. 45,15) que se revela a quem O busca. Aristóteles ensina que só o pensamento não move a vontade; pelo que felizes os que deliberam viver com sentido mesmo sem sentir, mesmo que a sensibilidade e a afetividade não respondam à opção pelo Absoluto.

Os “vestígios” do Criador estão na criação; os “sinais” revelam-se nas experiências interpessoais e nos testemunhos de vidas significativas de santos; as “experiências” de fé são pessoais nos Sacramentos que continuam a “Encarnação” nomeadamente a celebração da Eucaristia. A atitude humilde de busca persistente, a confiança e a submissão são portas para a fé e a esperança.

O despojamento ou a consciência dos nossos limites, ajuda-nos a levantar o véu, a “lavar os olhos” para nos tornarmos crentes, experientes e coerentes.

  1. É preciso querer crer para aderir ou não evidente e por isso é meritório.

A humildade ou verdade, é a consciência de carente a nosso respeito (cf.Mt 11,25; Lc 10,21) abre-nos à disponibilidade para o Espírito (cf.Jo.5,19; Lc.5,38). A consciência de indigentes e pecadores leva-nos a tomar também consciência da necessidade dum Salvador (cf.Lc4,15; Jo.5,44 e 15,19).

A busca séria e sincera é essencial para o encontro. De facto Jesus dirige-se aos pobres, atormentados e inquietos (cf.Mt 11,14 e 16,24). E é explícito “se queres” (cf.Mt.11,14;16,24), ou seja é proposta fidedigna, mas não violenta a inteligência pela evidência; daí o mérito da fé reajuste para ser aceite por Deus (cf.Heb.11, 6) como mérito a partir de adesão e de batismo significativo (Mc.16,16) que sela a orientação e comunica a fé.

Os Apóstolos proclamaram que quem acredita fielmente está a ser salvo (cf.Act 16,31) e liberto dos males do pecado destruidor.

  1. A nossa experiência testifica que crer é fiar-se, confiar no testemunho de alguém; neste sentido é uma forma de conhecer, de ter acesso ao que o outro, que merece crédito, nos testemunha.

A fé humana é do quotidiano: confiamos nos pais, nos amigos, nos professores, nos colegas de trabalho, nos jornais, na TV, e no computador e até esperamos que as indicações sobre o tempo atmosférico confirmem ou desiludam as nossas expectativas. As nossas escolhas alimentares baseiam-se na fé, na confiança do que está escrito nas embalagens e nos cardápios responde às nossas necessidades.

A fé religiosa fundamenta-se em manifestações e representações relativas do transcendente.

Mas a fé teologal envolve variados sinais exteriores e a nossa pesquisa a sério e a intervenção íntima conduzem à adesão ao não evidente.

A essência da fé envolve a submissão da inteligência à verdade total, é um sim ou não evidente e um compromisso com Deus. Todos os crentes vivem da Fé, (cf.Heb.11), como resposta à iniciativa de Deus; a”pistis” fundamenta a confiança para viver na esperança das promessas seladas por Deus (cf.Ap.3,14).

  1. Esta ligação experimental com Deus traduz-se na vida de crente e coerente pelo jogo franco de partilhar fraternalmente a vida com os outros filhos de Deus. Com simplicidade e realismo devemos fazer o jogo franco da leal fraternidade. No respeito pelas legítimas e saudáveis diferenças, buscamos o bem com em que também poderá ser necessário a adequada correção fraterna sem azedume, para ultrapassar erros, rotinas, desvios, em busca comum das obrigações assumidas livremente, porque livremente aderimos, livremente ficamos em busca da fidelidade (cf.Mt 18,9). É de justiça comutativa e distributiva a fidelidade às escolhas comprometidas: de cada um deve exigir-se segundo as suas capacidades e em todos ajudar segundo as respetivas justas necessidades sem proteger o parasitismo.

Não há atos indiferentes na vida pessoal consciente e livre; devemos aprender a escutar, ouvir, entender e rezar para dispor-se ao encontro e aprofundamento da relação com Deus, no e pelos serviços aos outros, segundo as nossas capacidades e as suas necessidades.

 

Autor:

Bernardo Domingues

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