A PRÁTICA DA MISERICÓRDIA

Jesus Cristo ensinou que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a «ter misericórdia» para com os demais. «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt5,7). A Igreja vê nestas palavras um forte apelo à ação e esforça-se por praticar a misericórdia. Se todas as bem-aventuranças do Sermão da Montanha indicam o caminho da conversão e da mudança de vida, a que se refere aos misericordiosos é particularmente eloquente a tal respeito. O homem alcança o amor misericordioso de Deus e a sua misericórdia, na medida em que ele próprio se transforma interiormente, segundo o espírito de amor para com o próximo. (…).

Cristo sublinha com insistência a necessidade de perdoar aos outros. Quando Pedro lhe perguntou quantas vezes devia perdoar ao próximo, indicou-lhe o número simbólico de «setenta vezes sete» (Mt 18,22), querendo desta forma indicar-lhe que deveria saber perdoar sempre a todos e a cada um.

É evidente que exigência tão generosa em perdoar não anula as exigências objetivas da justiça. A justiça bem entendida constitui, por assim dizer, a finalidade do perdão. Em nenhuma passagem do Evangelho o perdão, nem mesmo a misericórdia como sua fonte, significam indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou os ultrajes. Em todos estes casos, a reparação do mal ou do escândalo, a compensação do prejuízo causado e a satisfação da oferta são condição do perdão.

Assim, a estrutura fundamental da justiça penetra sempre no campo da misericórdia. Esta, no entanto, tem o condão de conferir à justiça um conteúdo novo, que se exprime do modo mais simples e pleno, no perdão. O perdão manifesta que, além do processo de «compensação» e de «trégua» que é a caraterística da justiça, é necessário o amor para que o homem se afirme como tal. (…)

Com razão a Igreja considera seu dever e objetivo da sua missão, assegurar a autenticidade do perdão, tanto na vida e no comportamento concreto, como na educação e na pastoral. Não a protege doutro modo senão guardando a sua fonte, isto é, o mistério da misericórdia de Deus, revelado em Jesus Cristo. (DM 53, 57 e 58).

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