A fé na praça pública

Pode um dos discursos mais ‘diabolizados’ do pontificado de Bento XVI ser uma influência de peso no pontificado do Papa Francisco? Recuemos a 12 de setembro de 2006, quando o agora Papa emérito falava na Universidade de Ratisbona, no contexto do regresso à sua Baviera natal, lamentando que a sociedade ocidental cultivasse uma razão “surda” diante do divino, remetendo a religião para o âmbito da “subcultura”. Fechada ao diálogo, portanto.

O tema tem marcado várias das respostas que o sucessor de Bento XVI tem dado quando confrontado pelos jornalistas sobre os problemas ligados ao fundamentalismo religioso, ao diálogo entre culturas e ao papel dos crentes na praça pública.

Francisco pediu na sua mais recente entrevista que a laicidade do Estado seja respeitadora da liberdade religiosa, incluindo a liberdade de exteriorizar a própria fé. Ou seja, que não remeta a convicção, a fé, para o âmbito do estritamente religioso, mas reconheça vez e voz aos crentes, com as posições que a sua consciência lhes dita. E aqui, mais uma vez, surgiu o tema das “subculturas”, como há tinha acontecido em viagens internacionais à Ásia e aos EUA.

A posição compreende-se: o terror e o medo criam o pânico, a rejeição, a desconfiança, levam a que o património das religiões seja esquecido, diabolizado, como se os vários credos fossem inimigos da humanidade em vez de referências da defesa e promoção da dignidade humana, de valores fundamentais para a convivência social.

A voz dos Papas fala por todos os crentes que não aceitam ser cidadãos de segunda e esperam que o mundo não desperdice a sua força de paz e de amor. A liberdade religiosa transcende os lugares de culto, a esfera individual, rejeitando as tentativas de afastar os crentes da esfera pública.

O direito de expressão na esfera pública passa também pelo reconhecimento de feriados, como tem acontecido em Portugal. O regresso da celebração do Corpo de Deus à quinta-feira é uma boa notícia, para mais porque é uma festa com um forte caráter público, de celebração na cidade e com a cidade.

Octávio Carmo,

Agência ECCLESIA

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