7 de fevereiro de 2016 – 5º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Neste domingo são-nos apresentadas duas vocações: a de um profeta, Isaías, e a dos apóstolos. Em ambas, os protagonistas tiveram a percepção da sua grande fraqueza e indignidade para anunciarem a Palavra de Deus.

Todavia, é precisamente destes homens que Deus se serve para levar adiante o seu projeto.

Do mesmo modo, todos nós, cada um a seu modo, somos chamados por Cristo a cooperar nesta missão, pois, apesar da nossa indignidade, Deus nos purifica e efetua obras excepcionais com a nossa colaboração.

A experiência de Isaías

Ao nos compararmos com as pessoas que estão ao nosso lado, pode acontecer que tenhamos a tentação de nos reconhecermos justos. Todavia, quando nos confrontamos seriamente com Deus, fazemos a dramática experiência da nossa pequenez.

Assim aconteceu com Isaías. Ele não teve qualquer visão, mas conta em forma figurada a experiência interior do seu contacto com Deus. Aí descobre que o Senhor o escolheu para ser profeta. Embora perplexo e agitado, toma consciência da própria fraqueza e sente medo da missão que lhe está confiada. Apesar de se sentir indigno, não tem dúvidas. Diz com prontidão: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».

A reação dos Apóstolos

Pedro também teve uma reacção muito semelhante à de Isaías e àquela que nós habitualmente tomamos ao sermos interpelados por Jesus. Quando o Mestre o mandou fazer-se ao largo com a sua barca ele pensou – como pescador experiente – que tal ordem era insensata, por não ser hora para pescar. Mas, confiado na sua palavra, lançou as redes e o resultado não se fez esperar. Que concluir deste episódio?

Notemos nos pormenores significativos desta narrativa: a proclamação da Palavra de Deus é feita a partir da barca de Pedro. A barca representa a comunidade cristã. É aí que ressoa a voz do Mestre. Nela se encontram, certamente, pessoas nem sempre impecáveis, perfeitas, santas. Mas, embora ocupada por pecadores, é desta barca que ressoa a palavra de Cristo.

Um segundo pormenor é que esta palavra é anunciada em dia de trabalho e num lugar não sagrado, sinal de que tal palavra deve aclarar, encaminhar e alumiar todas as actividades dos homens.

Pedro guia a barca para o lugar indicado, informação clara de que é ele que deve escutar com atenção a palavra do Senhor para depois, conjuntamente com os Apóstolos, a proclamar com fidelidade, como o Senhor deseja e não como Pedro entenda que deve ser.

As redes são lançadas em pleno dia contra a lógica dos pescadores. Eles pensam ser uma tarefa inútil, mas no fim o resultado é inesperado.

Também hoje a harmonia nas famílias, nas nações, no mundo, não conseguem resultados eficazes por serem ditados pela «sabedoria dos homens», porque as propostas feitas de perdão, de reconciliação a todo o custo, de oferecer a outra face, de perdoar as dívidas – que estão de harmonia com o Evangelho – são ridicularizadas e esquecidas. Enquanto não tivermos a coragem de confiar na Palavra do Mestre, não conseguiremos concretizar nenhuma obra de libertação.

Finalmente, o centro do episódio. A tarefa a desempenhar pelos seguidores de Jesus: serem pescadores de homens, ajudando-os a viver, principalmente os que se sentem enredados nos seus vícios, dados às suas paixões, que se arruínam a si mesmos e aos outros.

A nossa resposta

É esta a tarefa que Deus espera de todos nós, cristãos: tirar da condição desesperada todo aquele que se arrisca a ser enleado no egoísmo, na mentira, na violência, no ódio, na guerra, na corrupção moral, na destruição da família.

Conseguir salvar de tal tragédia todo aquele que connosco se cruza, terá de ser a nossa resposta. Demonstrar com o nosso testemunho que é possível construir uma sociedade fundada em sãos princípios: no perdão, na partilha dos bens, no serviço mútuo, no respeito pelos outros. Só assim conseguiremos ser testemunhas da ressurreição de Cristo, de que nos fala a segunda leitura.

Que serviço concreto poderemos prestar aos homens nossos irmãos?

Como Isaías e como os Apóstolos, não podemos recusar a assunção do ministério que a comunidade espera de nós, pois a nossa fraqueza, o nosso comodismo, a nossa instalação ou os nossos pecados não podem ser um obstáculo à sua aceitação. O Senhor nos irá purificando, pouco a pouco, na medida em que nos confiarmos ao anúncio vivencial da sua Palavra.

Já pensamos também, que as nossas comunidades eclesiais precisam de todos nós: como leitores, catequistas, cantores, acólitos, zeladores de altares, ministros extraordinários da comunhão, colaboradores activos no Conselho Pastoral ou Económico, auxiliares na acção sócio-caritativa…

E qual a nossa actuação na comunidade familiar, social, de lazer e de trabalho? Já tomamos consciência dessa necessidade de anúncio? Pelo que esperamos? Como reagimos a esta interpelação?

O Senhor espera pela nossa resposta.

Que O Senhor nos ajude a não desanimarmos quando confrontados com as nossas misérias; nos fortaleça na certeza de que não nos esquece, mas nos purifica na medida em que correspondermos ao seu chamamento e à nossa vocação cristã, a fim de podermos realizar com Ele obras extraordinárias em favor dos nossos irmãos.

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