29 de maio de 2016- 9º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Temos ordinariamente dificuldade em confiar nas pessoas. Por traumatismos sofridos, ou porque temos uma imagem negativa de algumas delas, encaramo-las “de pé atrás”, acolhendo-as com reserva, e não as atendemos com toda a cordialidade.

O nosso Deus, ao contrário do nosso modo de ser, tem as portas do coração abertas de para em par, para todas as pessoas, sem excluir ninguém. Mais ainda: anima-nos a procurá-l’O e a expor-Lhe as nossas dificuldades.

  1. O Coração do Senhor aberto para todos

O rei Salomão orava no Templo de Jerusalém — uma das maravilhas do mundo de então que ele próprio construíra — e pedia ao Senhor que não limitasse a Sua generosidade ao povo judeu, mas atendesse também todo o estrangeiro que ali fizesse a sua oração.

De facto, no Templo da época de Jesus, enriquecido quarenta anos do nascimento do Salvador, havia um átrio dos gentios onde eles podiam estar. Passar para além dele, invadindo o espaço reservado aos judeus era considerado um sacrilégio.

Sublevaram-se contra Paulo, inventando que ele tinha introduzido os gentios que trazia consigo, no lugar sagrado.

  1. a) O Senhor atende a todos. «ouvirão falar do vosso grande nome, da vossa mão poderosa e do vosso braço estendido

Deus não é como os homens importantes deste mundo, para nos aproximarmos dos quais é preciso valermo-nos de pessoas influentes que estão perto deles, para sermos atendidos.

Jesus Cristo é o único Mediador entre o Pai e os homens, sem qualquer excepção, mas não segrega ninguém no Seu atendimento misericordioso.

Também não é verdade que haja palavras ou orações mágicas, infalíveis, para obtermos aquilo de que precisamos. Não há no mundo poderes ou forças independentes de Deus. Tudo se submete à Sua vontade omnipotente.

O que devemos fazer na oração de petição é apresentar com toda a simplicidade ao Senhor aquilo que pretendemos, submetendo-nos confiadamente à Sua vontade.

Às vezes fazem-se promessas a santos com uma mentalidade estranha. É como se dissermos: “Deus não quer, mas este pode mais e vai-me conceder o que Deus me nega.”

Os santos não são forças opostas a Deus, mas o que mais querem é que a sua vontade se cumpra. Contamos com eles como amigos de Deus que vão reforçar o nosso pedido.

Também as graças alcançadas são outras tantas dívidas de amor. Não podemos falar em “pagar promessas”, como se fazer aquilo a que nos comprometemos acabasse com toda a nossa relação com Deus e com os santos. Cada graça que recebemos é uma ajuda para nos tornarmos mais amigos de Deus.

  1. b) Seja qual for a nossa condição. «Quando um estrangeiro […] vier orar neste templo, escutai-o do alto do Céu, onde habitais, e atendei os seus pedidos

Ouvimos dizer com frequência: “Deus já não me ouve, porque não sou digno… tenho muitos pecados.”

Ora Ele não nos atende pelos nossos méritos, mas pelos de Seu Filho Jesus Cristo. N’Ele somos também filhos.

Neste mundo notamos uma grande discriminação de pessoas quando se trata de alcançar qualquer coisa dos poderosos. Hoje vale sobretudo a cor politica para se chegar a todos os lados, mesmo que para isso seja necessário prejudicar outros.

Deus não é assim. Atende a todos igualmente, mesmo que sejam muitos os pecados daquele que pede.

Mas se Deus é assim para connosco, devemos sê-lo igualmente para com as pessoas com quem vivemos. E nós temos dificuldade em ser imparciais e a todos atender igualmente.

É raro que não se meta pelo meio o favor interesseiro, o dar a quem nos pode recompensar. Queremos  o mesmo Deus igual para todos, mas quando Ele põe a justiça em nossas mãos, facilmente descriminamos as pessoas.

O Senhor continua a dar-nos indicações claras de que devemos tratar a todos por igual, porque todos têm a mesma dignidade de filhos de Deus. Não nos deixemos levar pelas aparências.

  1. c) Firmes em nossa confiança. «Se alguém vos anunciar um evangelho diferente daquele que recebestes, seja anátema

A primeira arma que o Inimigo usa contra nós é do desânimo, sob o disfarce de que a nossa visão da vida é realista, ditada pelo sentido comum.” Afasta-nos de Deus, por falsa humildade, para que, isolados, possamos ser vencidos.

A oração do rei Salomão era feita no Templo.

Nós temos, além dos templos cristãos, onde temos mais silêncio e Jesus Cristo vive e real no Sacrário, o íntimo de cada um de nós, onde a Santíssima Trindade vive como num templo. Uns momentos de recolhimento põe-nos na Sua presença, para Lhe falarmos com toda a confiança.

Ainda que nos pareça que tudo está contra nós e nos encontramos sós, não temamos. Deus nunca nos abandona.

  1. Disposições para nos aproximarmos d’Ele
  2. a) Confiança em Jesus Cristo. «Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus para Lhe pedir que fosse salvar aquele servo

É muito simpática a figura deste Centurião. Construíra uma sinagoga para os judeus, não professando a fé deles, e vinha agora interceder por um servo doente, gesto raro naqueles tempos.

Devia ser um homem de grande coração porque, apesar de representar ali a ocupação por um pode estrangeiro, soube captar a amizade e a simpatia de todos. «Ele é digno de que lho concedas, pois estima a nossa gente e foi ele que nos construiu a sinagoga».

Volta-se com toda a confiança para Jesus, esperando encontrar aqui a solução para o problema que o preocupa.

É assim que recorremos ao Senhor quando temos problemas, com uma grande confiança na Sua bondade e a certeza de que só não nos atenderia se não pudesse.

A verdade é que o centurião, em palavras simples, reconhece o poder extraordinário de Jesus. Lembra que também ele tem pessoas às suas ordens que obedecem prontamente às suas ordens. E o mesmo pode fazer Jesus em relação à doença daquele servo.

Esta confiança “venceu” Jesus: «Ao ouvir estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e, voltando-se para a multidão que O seguia, exclamou: “Digo-vos que nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé”».

  1. b) Contando com intercessores. «Quando chegaram à presença de Jesus, os anciãos suplicaram-Lhe insistentemente

O Centurião pensou que, mandando intercessores, seria mais facilmente atendido. «Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus para Lhe pedir que fosse salvar aquele servo

Há quem entenda a intercessão dos santos como uma força contraria à vontade de Deus que O leva a fazer o que não queria. É uma visão errada da intercessão dos santos. Eles são os mais fieis amigos do Senhor e enriquecem, com os seus méritos, o pedido que nós fazemos, tendo sempre bem claro que há um só mediador necessário.

Além disso, havemos de apoiar as nossa súplicas na oração de pessoas que rezam. É esta a grande missão das obras e pessoas contemplativas: manter o clima de oração e intimidade de que todos precisamos.

  1. c) Com profunda humildade. «Não Te incomodes, Senhor, pois não mereço que entres em minha casa, nem me julguei digno de ir ter contigo

Este centurião é de uma extrema delicadeza e humildade. Apesar da sua famosa bondade pessoal e das benemerências que praticara em favor do povo de Cafarnaum, não se julgava digno de se apresentar diante de Jesus. Além disso, conhecedor de que qualquer judeu que entrasse em contacto com um pagão, ficaria legalmente impuro, sujeito a complicadas purificações, quis poupar a Jesus estes incómodos.

Quando Jesus respondeu que iria a casa do centurião para curar o servo, reagiu imediatamente, mandando dizer por uns amigos: «Não Te incomodes, Senhor, pois não mereço que entres em minha casa, nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma palavra e o meu servo será curado

A Igreja gosta tanto destas palavras que nos manda repeti-las em todas as Missas, antes de comungar.

Ao participarmos na celebração da Eucaristia de cada domingo, façamo-lo com profunda humildade, sem esquecermos que somos filhos de Deus.

Esta humildade manifesta-se na nossa apresentação quando vamos comungar, fazendo uma inclinação profunda, ao mesmo tempo que professamos a fé na Presença Real, ao pronunciar o Amen. Recolhamo-nos, depois, e profunda adoração, repetindo para nós as palavras do centurião.

Nossa Senhora dá-nos o exemplo ao repetir, no momento em que recebe no seu seio virginal o verbo de Deus para Se unir à nossa natureza: Eis a escrava do Senhor!

 

Fonte:

Revista Celebração Litúrgica

Edição nº 4 | Tempo Comum | Junho/Julho 2016

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