29 de junho de 2017- Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos

Pedro e Paulo representam dois caminhos diferentes, mas complementares de edificação da Igreja.
Crer e conhecer a Jesus é aceitá-lo e confessá-lo como o Salvador enviado por Deus para redimir a humanidade da sua escravidão ao pecado e da descrença, colocando-a no caminho da vida verdadeira pela fé no perdão de Cristo. Pedro e Paulo tinham esta convicção e não se negavam a confessá-la.
Nesta celebração, impelidos pela ação apostólica destas duas grandes colunas da Igreja, sejamos também nós capazes de juntar a tenaz fidelidade de Pedro e a capacidade de Paulo para servir o povo cristão e conduzi-lo pelos caminhos do Senhor.

Levou-o até Jesus que, fixando os olhos nele» (Jo 1, 42)
Ser olhado por Jesus, como o foi Simão Pedro, é a maior de todas as glórias. Imaginemos um rei encantado olhando para um de seus súbditos, um homem apaixonado olhando para uma mulher, uma mãe cheia de carinho olhando para seu filho. Pode haver algo de melhor e mais exaltante? O olhar de uma pessoa apaixonada acorda na pessoa amada uma sensação de felicidade e segurança. Ela passa a sentir-se querida e privilegiada. Isto deve ter acontecido com Pedro quando Jesus fixou nele o olhar.
E, além de olhá-lo, Jesus muda o seu nome, preanunciando uma missão que seria, mais tarde, reconfirmada depois da ressurreição. «Apascenta minhas ovelhas» (Jo 20, 15s). Pedro não foi merecedor, sem dúvida, de tanta distinção. Para ele, tudo foi graça de Deus.

«Tu és Pedro…» (Mt 16,18a)
Até que ponto o nome de uma pessoa descreve a sua personalidade? Sem querer entrar no mérito da questão, uma série de associações interessantes pode ser feita com o nome de Pedro.
Pedro deriva de pedra. O apóstolo caracterizava-se pelo espírito de liderança, cujas respostas impulsivas vinham de pronto, como arremessos de pedras. E ainda que as mesmas, às vezes, o deixassem em maus lençóis, eram a expressão firme e sólida de suas convicções.
Um dos exemplos mais conhecidos é aquele em que o Senhor Jesus pergunta aos discípulos «Quem dizeis que eu sou?» Pedro responde: «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo».
Quando os discípulos aqui são desafiados por Jesus sobre a sua fidelidade, mais uma vez Pedro assume seu papel de líder e responde pelos discípulos, dizendo: «Nós temos fé e sabemos que és o Santo de Deus».
A resposta que Pedro deu, era a expressão das suas convicções e a dos seus companheiros. Os três anos de convivência, com seus altos e baixos, mais e mais confirmavam as suas convicções de que Jesus era de facto o que ele dizia ser: o Santo, o Prometido, o Messias.

«…e sobre esta pedra construirei minha Igreja» (Mt 16, 18b)
Crer e conhecer a Jesus é aceitá-lo e confessá-lo como o Salvador enviado por Deus para redimir a humanidade da sua escravidão ao pecado e da descrença, colocando-a no caminho da vida verdadeira pela fé no perdão de Cristo. Pedro e seus companheiros tinham esta convicção e não se negavam a confessá-la.
O pecador acostumado às redes e resoluto nas palavras jamais imaginaria que seu Mestre lhe desse honra tão grande a ponto de ser chamado Pedro, isto é, pedra, algo duro, resistente. Acontece, porém, que ele teve a resposta certa na hora certa. Por isso, uma vez que a sua «revelação» foi feita e aceite, o antigo Simão torna-se Pedro, a pedra que se integra na pedra maior, que é o próprio Cristo (1 Cor 10,4), a pedra sobre a qual foi construída a Igreja.

Um monumento solitário?
Mas, será que esse Pedro tornou-se um monumento solitário, uma espécie de ilha cercado por um mar de descrença por todos os lados? De modo algum. Junto dele havia, pelo menos, mais dez pessoas com a mesma resistência de fé. E pouco tempo depois esse número teria aumentos sensacionais.
No entanto, nós, às vezes, sentimo-nos um tanto solitários. Vamos à igreja, é verdade. Dizemos a Jesus nos hinos, no Credo, nas orações, que Ele é Cristo. Vemos ao lado muita gente fazendo o mesmo. No dia seguinte, porém, a alegre exclamação já parece um tanto desbotada, e a Igreja dá-nos a nítida impressão de ter sido engolida pelas forças opostas.
De facto, este mundo social e cultural que habitamos não é o mundo da igreja. Há um conflito às vezes claramente aberto, às vezes apenas pressentindo, mas permanentemente. É então que ameaçamos desabar.
Muito bem. Qual a novidade? Pedro também não desabou quando, ao lhe parecer que o inferno havia dominado tudo, negou a Jesus? O importante no caso é não cair no desespero. É confiar naquele que enfrentou tudo e nos garante que as portas do inferno não levarão vantagem sobre a Sua Igreja. E não levarão mesmo.

Deus fixa em nós o Seu olhar
Caros irmãos, sobre cada pessoa Deus fixa seu olhar, chama-a pelo nome e confia-lhe uma missão na construção do Seu Reino: de pai, de mãe, de sacerdote, de pastor, de servos da vida e cantores da Sua glória. A pessoa pode até sentir-se indigna dela ou incapaz de executá-la, como Pedro deve, sem dúvida, ter-se sentido. Mas onde Deus fixa o Seu olhar, também coloca a Sua graça. E, nós, uma vez chamados, compete-nos dizer o «sim» de Maria e abraçar a cruz como Pedro o fez. A graça não nos faltará e em nós brotará a salvação.

. O Senhor esteve a meu lado e deu-me forças
São Paulo descreve a Timóteo a experiência vivida numa prisão romana. As palavras utilizadas revelam uma grande confiança em Deus. Os sentimentos do Apóstolos são semelhantes aos do salmista: «O Senhor esteve a meu lado e deu-me forças»! Ele bem sabe que «o Senhor liberta os que n’Ele se refugiam!» Estas palavras podem referir-se não só a S. Paulo, mas também a S. Pedro, como acabámos de escutar na leitura dos Actos dos Apóstolos, onde nos é descrita a prodigiosa libertação de S. Pedro da prisão de Herodes e de uma provável condenação à morte: «agora eu sei que o Senhor enviou o seu Anjo e me libertou das mãos de Herodes!»
As leituras revelam o desígnio providencial de Deus para estes dois Apóstolos. É o próprio Jesus que os escolhe e orienta para o cumprimento das suas actividades apostólicas: Jesus mudou o nome de ambos, quando os chamou para o seu serviço: a Simão, deu o nome de Pedro, ou seja, «rocha» ou pedra sobre a qual alicerçou a Igreja. A Saulo, deu o nome de Paulo, tornando-o um vaso de eleição para levar o Evangelho a todos os povos. O Prefácio estabelece um paralelismo interessante entre os dois Apóstolos: «Pedro foi o primeiro a confessar a fé em Jesus Cristo, Paulo a ilustrá-la com a sua doutrina. Pedro estabeleceu a Igreja nascente entre os filhos de Israel. Paulo anunciou a salvação a todas as gentes». A sua missão suprema terminou precisamente em Roma, onde ambos sofreram o martírio, fecundando assim a Igreja com o seu próprio sangue. Agora recebem a mesma veneração do Povo de Deus!

.Beberam o cálice do Senhor e tornaram-se amigos de Deus
Pedro e Paulo são «amigos de Deus»! Amigos de Deus! Jesus, durante a última Ceia disse: «Já não vos chamo servos, mas amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai» (Jo 15, 15). Quantas tribulações, trabalhos, sofrimentos, prisões! Perigos e provações da parte dos judeus e dos gentios, mas foram «libertos de todo o mal» pelo «Senhor, que esteve sempre a seu lado e lhes deu força», líamos na segunda leitura.
Hoje, recordemos também alguns episódios reveladores de fragilidade da vida destes Apóstolos, para nossa edificação espiritual. Por exemplo, a fragilidade da negação de S Pedro, logo seguida de lágrimas abundantes: são momentos que revelam a sua queda e o seu arrependimento. A amizade parecia ter desaparecido, naquele noite de tribulação, angústia e de provação! Contudo, mais tarde, revigorado pela força do Amor ao divino Mestre, por três vezes há-de declarar: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que te amo!» Assim acabou por receber o mandato de apascentar o seu rebanho: «Apascenta as minhas ovelhas!» (cf. Jo 21, 15-17). Pobres e fracos todos nós! Mas os dons de Deus são irrevogáveis, para sempre! Que consolação! A debilidade humana foi assumida pelo Verbo divino! Podemos confiadamente orar como o Apóstolo: «Tudo posso naquele que me dá força!»
A experiência de S. Paulo foi semelhante ou ainda mais forte. Ele próprio confessará que perseguiu os cristãos, mas Jesus «chamou-o com a sua graça (Gl 1, 15), iluminando-o, no caminho de Damasco. Assim, liberto e radicalmente transformado, Jesus fez dele “um instrumento eleito para anunciar o seu Nome a todas as gentes» (cf. Act 9). Escreverá ainda noutra página estas palavras que também nos animam: «Cristo morreu pelos pecadores e eu sou o primeiro dentre eles, mas alcancei misericórdia!»
No dia dos Santos Apóstolos olhemos mais uma vez para a nossa vida! Também há em nós pecados, infidelidades e negações? Confiemos na Misericórdia divina! Determinemo-nos a sermos amigos de Deus!
Lembremo-nos de que todos somos amigos de Deus, escolhidos antes da criação do mundo para sermos «o louvor da sua glória».
Lembremo-nos de que todos somos Apóstolos, isto é, enviados por Jesus para que «a sua mensagem de Amor e de Salvação ressoe por toda a terra!»

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