26 de julho de 2015 – 17º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Se somos filhos de um mesmo Pai, como nos lembra São Paulo na primeira leitura, não se entende por que tantos homens e mulheres vivem na extrema pobreza enquanto outros vivem na extrema riqueza. No mundo de hoje investe-se muito dinheiro em guerra, em viagem espaciais, em tratamentos para emagrecer. Os que detêm o capital criam condições cada vez mais injustas e pretendem fazer mais dinheiro, explorando os recursos que restam, mesmo se com isso destroem tudo e acabam com as condições de vida sobre a terra. Nenhum ser humano poderia morrer de fome, pois a terra tem o suficiente para alimentar a todos. Os cristãos não devem duvidar da partilha, pois ela é a chave para tornar a fraternidade uma realidade e para reconhecermos que realmente somos filhos do mesmo Pai! Quando se reparte com satisfação e alegria o alimento, este se multiplica e ainda sobra.

A nossa transfiguração

A 1ª Leitura e o Evangelho apresentam-nos hoje duas multiplicações dos pães.

Não pude deixar de notar que a Bíblia fala continuamente de comida, de banquetes, de vinho, de pão. «Comer» é um dos verbos que aparecem com mais frequência (quase mil vezes, enquanto «orar», que nos parece uma acção mais religiosa, aparece muito menos: só uma centena de vezes). Isto é uma constatação surpreendente para quem julga que a religião só se deve interessar pelo espírito. Mostra-nos assim que a fome do pobre é um problema que tem muito a ver com a opção de fé.

Do que é que se interessa a nossa religião: só do mundo futuro? Não tem nada a dizer sobre a vida deste mundo? Deus não Se preocupará com as nossas necessidades materiais, com a nossa saúde, com a fome? Como é que responde à nossa exigência de pão: fazendo prodígios que nos dispensem de qualquer esforço e colaboração?

A transfiguração de família

Não há dúvida que Deus intervém. As leituras de hoje dão-nos conta dessa preocupação de Deus em saciar a fome dos homens. Na primeira leitura víamos como Deus envia o profeta Eliseu que pegando na oferta que lhe foi feita sacia a fome de mais de 100 pessoas. E Jesus no Evangelho multiplica os pães para alimentar mais de cinco mil homens.

Com este gesto Jesus mostra-nos que Deus Se preocupa e intervém em nosso favor. Mostra-nos também que chegou o momento de fazer festa porque o Reino dos Céus, em que haverá abundância de pão para os pobres, já começou: «tomou os pães e distribuiu-os… e comeram quanto quiseram». Até os doze cestos que sobraram sublinham esta abundância e são sinais dum alimento destinado a multiplicar-se, a nunca mais acabar. Imagem do mundo novo.

A transfiguração da sociedade

Mas corremos o risco de apenas nos fixarmos nos aspetos prodigiosos destes episódios. E se isso acontece acabamos por não compreender essa multiplicação como «sinais» e perdemos assim a mensagem que é esta: o pão dum só torna-se pão para todos.

Deus intervém para saciar a nossa fome mas também conta connosco para repartir o Seu pão.

Mas como nascerá este mundo em que haverá pão para todos? Se pensarmos nas enormes carências dos homens de hoje, também nós somos levados a reagir como o homem de Baal-Salisa ou como os apóstolos: o alimento é pouco (cinco pães de cevada), a multidão é grande (cem pessoas, cinco mil homens); «como é que se pode dar de comer a tanta gente?», «o que são cinco pães para tanta gente?». Por vezes, se calhar, também nós julgamos que as condições dramáticas em que vivem tantos homens dependem da vontade de Deus e são consequência duma criação não perfeitamente acabada. Nesse caso, nada mais haveria a fazer senão esperar do céu uma solução milagrosa.

Face à fome no mundo, somos tentados a desanimar ou então a perguntar, como Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?» O Evangelho de Lucas refere a seguinte proposta dos doze: «Despede a multidão para que vá pelas aldeias e casas em redor procurar alimento e onde pernoitar» (Lc 9, 12). Isto quer dizer muito simplesmente «que cada um se arranje!». Não é esta a solução de Jesus para o problema da fome. O egoísmo, o pensar só em si mesmo e nas próprias necessidades, é exatamente o contrário da proposta cristã.

Na multiplicação dos pães, Jesus age a partir do pouco que o povo tem no momento. O milagre não é tanto a multiplicação propriamente dita, mas o que ocorre no interior dos que o ouviam… foram capazes, por um momento, de deixar de lado o egoísmo e partilhar. Compreenderam, que se o povo passa fome, não é tanto pela pobreza em si, mas sim pelo egoísmo dos homens e mulheres, que conformados com o que possuem, não se importam com os mais necessitados. Este gesto de partilha marcou profundamente as primeiras comunidades cristãs. Ao partir o pão descobre-se a presença nova do Ressuscitado!

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