23 de abril de 2017- 2º Domingo da Páscoa – Ano A

A história do incrédulo Tomé quer nos ensinar que não era mais fácil crer em Jesus só porque era seu contemporâneo, e que os que acreditarem sem precisar ver serão felizes. Será que sentimos verdadeiramente na nossa vida a alegria de crer e vivemos a nossa fé como fonte de alegria, ou às vezes a vemos como uma carga mais ou menos pesada?

A fé em Jesus Cristo ressuscitado e o facto de termos recebido o Espírito Santo nos incorporam necessariamente à comunidade cristã, à Igreja, que não se reduz, como tantas vezes pensamos e dizemos, no papa, bispos e padres, ou seja, à chamada «hierarquia», mas que está constituída por todos os que crêem: homens e mulheres, de todas as idades, que exercem nela diversos ministérios e levam diferentes formas de vida, mas tendo todos muitas coisas em comum, precisamente aquelas que hoje nos apontava a leitura do livro dos Atos dos Apóstolos. Em primeiro lugar a fé comum, «o ensinamento dos apóstolos», o Evangelho, em suma, que remonta, através dos apóstolos, às palavras mesmas de Jesus. Em segundo lugar a comunhão de bens, característica bem chamativa da comunidade primitiva, chegando até a vender as propriedades para depositar a quantia equivalente no fundo comum do qual se provia as necessidades de todos e de cada um, de forma que ninguém passasse necessidade. Vem em terceiro lugar «a fração do pão», a partilha do pão, isto é, a celebração eucarística durante uma refeição comunitária, um ágape no qual se consumiam alimentos diversos e no meio do qual se fazia a memória de Jesus, de sua morte e ressurreição, evocando seus gestos e palavras da última ceia. Finalmente as «orações», momentos especiais de preces comunitárias, possivelmente nas mesmas horas em que os judeus costumavam fazer as suas: ao amanhecer, ao meio dia e à tarde.

A Igreja era de verdade como está retratada nesta leitura? A resposta evidente é que não, pois a leitura nos apresenta acima de tudo um ideal que cada um, cada comunidade cristã e a Igreja toda em geral, deveríamos atingir. É possível que a primitiva comunidade cristã nem tenha sido tão perfeita como se descreve na leitura; o mesmo livro dos Actos dos Apóstolos, em outras passagens, nos falam de suas imperfeições e seus problemas. Mas são Lucas quis nos deixar este retrato ideal, este espelho da perfeição cristã, no qual todos devemos olhar para cairmos na conta de que estamos bem distantes do modelo ideal.

A segunda leitura está tirada da 1ª carta de São Pedro é dirigida a pagãos convertidos ao cristianismo, que vivem sua fé em meio a graves dificuldades e num ambiente hostil. O autor deixa conselhos para as diferentes classes de pessoas: aos escravos cristãos de senhores pagãos, às esposas cristãs de esposos pagãos, aos dirigentes das comunidades cristãs; a cristãos em geral que convivem em meio a costumes pagãos e com a hostilidade que esses grupos minoritários e singulares sempre provocam no meio de uma civilização desenvolvida. O fragmento lido hoje parece uma homilia batismal pois fala da ação de Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que nos faz nascer de novo «para uma esperança viva, uma herança incorruptível». Trata-se, pois, de Deus Pai que faz de nós os seus filhos e, assim sendo, nos destinou uma herança digna de sua magnificência e de sua infinita misericórdia e ternura. O autor nos exorta a perseverar, mesmo entre as dificuldades, pois assim se consolidará e purificará a fé que professamos, como o ouro no cadinho, uma imagem bem viva e muito usada na Bíblia. Esta fé tem por objeto Jesus Cristo a quem, diz o autor, amamos e em quem acreditamos mesmo sem tê-lo visto. Dele procede toda a alegria que experimentamos neste tempo pascal.

A leitura do evangelho de João nos apresenta duas aparições do Senhor ressuscitado a seus discípulos, uma no mesmo dia da ressurreição, e outra, oito dias após. Na primeira estava ausente o apóstolo Tomé, que ao inteirar-se do facto pelos seus companheiros, não quis dar crédito às suas palavras e pediu «provas palpáveis» do acontecimento. Na segunda aparição estava presente Tomé, a quem Jesus convida a tocar suas chagas, a pôr a mão em seu peito trespassado pela lança. Agora, sim, Tomé confessa humildemente «Meu Senhor e meu Deus» e Jesus lhe censura por sua incredulidade, por não ter confiado no testemunho dos demais apóstolos. Encontramos aqui uma bem-aventurança pronunciada pelo próprio

Jesus ressuscitado, que chega a todos os crentes de todos os tempos: «Bem-aventurados os que crêem sem ter visto», ou seja, os que aceitam o testemunho da vida e da pregação da Igreja. A nós todos, que com tanta alegria celebramos este tempo pascal, chega também a bem-aventurança de Jesus.

A passagem do evangelho de João que lemos é a conclusão de todo o livro.

Por isso as últimas frases nos advertem que Jesus fez perante seus discípulos muitos outros sinais, referindo-se a seus milagres e a todo o seu ministério público, à sua paixão e sua ressurreição. O evangelista deu a entender que muitas outras coisas não foram contadas e que o objetivo de seu evangelho é este: levar-nos à fé em Cristo e, pela fé nele como Messias e Filho de Deus, obter a salvação. Esta é a razão pela qual lemos o evangelho a cada domingo na igreja, para que alimente a nossa fé.

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