2 de abril de 2017 – 5º Domingo da Quaresma – JESUS E A MORTE DA HUMANIDADE

A esperança vem da Palavra de Deus. Ele tira-nos dos túmulos e pelo Seu espírito faz-nos reviver. Jesus mostrou-nos que a morte não tem a última palavra. Mais ainda, Ele ordenou-nos que soltemos e deixemos caminhar todos os que estão sendo impedidos de viver, pois o Espírito que O animou liberta os oprimidos por todas as espécie de mal e ressuscita os mortos está presente em nós pelo batismo.

1ª Leitura (Ez 37, 12-14): Javé liberta o seu povo da morte

Como se sentia o povo de Deus exilado na Babilonia? A resposta a esta pergunta está em Ez 37, 11; «A casa de Israel anda dizendo: Os nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita. Para nós, tudo está acabado». Este versículo, por sua vez, procura explicar o sentido daquilo que o profeta viu, ou seja, uma multidão de ossos secos que se cobrem de nervos, carne e pelo, formando um enorme exército de seres vivos.

O povo de Deus no exílio tomou consciência da sua situação: ele é como ossos ressequidos dentro de um túmulo, ou seja, um povo morto.

Por meio de Ezequiel, o Deus que promete e cumpre anuncia que vai abrir os túmulos e tirar o Seu povo das sepulturas, a fim de o reconduzir à terra de Israel. Trata-se de linguagem simbólica que denuncia a situação de morte em que vive o povo exilado (túmulos) e anuncia a libertação, traduzida em termos de regresso à própria terra.

O povo estava muito desanimado e havia perdido a memória dos grandes feitos libertadores de Deus. Por isso o texto insiste em afirmar que Ele é Javé, Aquele que fala e cumpre o que diz. Com isso Ezequiel pretende reavivar no povo a memória dos acontecimentos narrados no livro do êxodo, ou seja, a presença do Deus que ouve os clamores do Seu povo e o liberta dos seus opressores.

2ª Leitura (Rm 8,8-11): A vida no Espírito

O capítulo 8 de Romanos tem como tema central a vida no Espírito, que se opõe à vida segundo a carne. O Espírito Santo, que animou toda a vida de Jesus, manifesta-Se na vida das comunidades, ajudando-as a recordar o que Jesus fez, a fim de que possam dar continuidade ao projeto do Pai. Vida no Espírito, portanto, é viver do modo como Jesus viveu, doando-Se plenamente. A Lei do Espírito é a lei das opões que animaram Jesus e implantaram o projeto de Deus na nossa história.

A isso opõe-se a vida segundo a carne. Para Paulo, carne é a pessoa abandonada a si própria e ao seu egoísmo, fazendo de si mesmo um ídolo. Quem vive segundo a carne põe-se no centro de tudo: o mundo todo gira ao redor desta pessoa e dos seus interesses. Desse modo, as pessoas servem a si própria, adoram a si próprias e buscam a sua própria auto-afirmação. Daí nascem os instintos egoístas (que é outro modo de traduzir a palavra carne). Viver segundo a carne é pautar a vida por critérios contrários aos de Jesus, que foram os critérios da doação e entrega aos outros. Aí não reside o Espírito de Deus. É por isso que Paulo afirma: «Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus».

Ao sermos batizados, recebemos o Espírito que animou a vida de Jesus. Também nós somos movidos pelo Espírito, pois Ele habita em nós. Por isso o cristão não se coloca no centro do mundo: pelo contrário, o centro da sua vida é a pessoa de Jesus e o Seu projeto e a pessoa dos outros com as suas necessidades.

O Espírito é a força do Pai que gerou Jesus no seio de Maria. Ele é, portanto, força de encarnação. Viver n’Ele é encarnar-se na realidade da mesma forma que Jesus, pois quem não se encarna jamais será capaz de sentir os apelos da humanidade, nem será capaz de colaborar positivamente na transformação da sociedade.

Os que vivem segundo o Espírito entendem que libertação é sair de si mesmo em direção aos outros, da mesma forma que Jesus, voltado para o seio do Pai, saiu do Pai e veio morar no meio de nós.

Evangelho (Jo 11,1-45): Jesus e a morte da humanidade

A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal do quarto evangelho. A função dos sinais é levar as pessoas a tomar partido: a favor de Jesus e da vida, ou contra Ele e a favor da morte. De facto, Marta crê que Jesus é a Ressurreição e a Vida, ao passo que os Seus inimigos declaram a morte de Jesus. A ressurreição de Lázaro é também o ponto alto da catequese batismal das primeiras comunidades cristãs. Esse episódio pretende conduzir as pessoas à profissão de fé em Jesus – Vida.

A ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para uma realidade maior e mais profunda: a vitória de Jesus sobre a morte e a Sua glorificação. Este é o sentido do versículo 4: «Essa doença não é de morte, é antes para a glória de Deus, para o Filho de Deus ser glorificado por ela».

Lázaro, Marta e Maria são a própria humanidade envolvida em situações de morte. A doença de Lázaro é a doença do mundo; as suas ligaduras são as ligaduras de todas as pessoas impossibilitadas de andar e viver. E a todos eles Jesus dá a mesma ordem: «Desligai-o e deixai-o ir». Marta e Maria recordam o sofrimento, esperança e fé dos sofredores de ontem e de hoje. E Betânia é toda a comunidade com as suas esperanças e temores de que a morte tenha a última palavra sobre as nossas vidas.

Jesus ama a humanidade e solidariza-se com os Lázaros, Martas e Marias de todos os tempos, ordenando que soltemos as ligaduras que os prendem. Nem sequer a morte física dos que Ele ama e as tramas diabólicas que os Seus adversários Lhe armam serão capazes de impedir o curso vitorioso da Sua ressurreição.

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