12 de abril de 2015 – 2º Domingo da Páscoa- Domingo da Divina Misericórdia

Na narrativa joanina deste domingo falta um elemento comum a este tipo de narrações: a lentidão do reconhecimento e a dúvida dos apóstolos. Em Luas (Lc 24,37-38), estes pensavam ver um fantasma e Jesus censura-os: «Por que estais perturbados e por que surgem nos vossos corações tais pensamentos?».

Se João não colocou este elemento na primeira parte do texto deste domingo, é porque o reservou para o aplicar na totalidade a Tomé, seguindo um procedimento que lhe é caraterístico.

Deste modo, o apóstolo não é o incrédulo que imaginamos: ele resume e representa o progresso pelo qual todos os discípulos chegaram à fé. Tomé é uma figura tipo. Mesmo a sua exigência de «ver» para «crer» não é repreensível, uma vez que, segundo os evangelistas, Jesus quis, através de «sinais» visíveis e tangíveis, conduzir os homens a descobrir, na fé, o mistério da sua pessoa e da sua vinda à terra.

Quanto muito, podemos reprovar em Tomé a pretensão, que é muitas vezes a da multidão ou dos adversários, de reclamar, de exigir ver sinais em lugar de acolher. Mas compreendendo a afetuosa censura que Jesus lhe faz, ele renuncia à evidência reclamada e acede à fé. Sem tocar para verificar (são desenhos, pinturas, esculturas e filmes pretensamente piedosos que nos mostram Tomé a meter os dedos nas chagas de Cristo e não os textos evangélicos), Tomé pronuncia a mais extraordinária profissão de fé que se encontra em todo o Novo Testamento: «Meu Senhor e meu Deus!».

 

«Os discípulos aferrolharam as portas por medo dos judeus».

Acabou tudo. Não há mais nada a fazer. Aquele em quem tinham depositado toda a esperança, toda a confiança, aquele que esperavam ser o libertador, esse mesmo, como qualquer mortal, caiu por terra. Morreu. É a morte e o medo que ela arrasta que reina.

Quem de nós não teve dias parecidos: a morte de entre querido, a doença crónica, uma situação familiar ou profissional… tudo parece desabar e nos cai em cima.

Desconfiamos, amedrontados aferrolhamos as portas, para que ninguém, nem os de perto nem os de longe, nos tenham acesso, e quantas vezes, nem Deus pretendemos que entre na nossa vida, que já nada mais tem a esperar.

Mas é precisamente aí que entra o Ressuscitado. É quando os apóstolos estão na mão de baixo que Jesus se coloca no meio deles e lhes diz: «A  paz esteja convosco». Não censura a falta de fé, não censura o desespero, apenas liberta, salva, dá a paz.

Renasce a alegria de ver o Senhor. Como calar esta experiência? Pés ao caminho: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio». Há muitas vidas metidas em becos dos quais é preciso salvá-las. Temos que partilhar a nossa libertação com os outros. Por maiores que sejam os desafios, por maiores que sejam as dificuldades, temos connosco o Espírito, o dom do Ressuscitado, que em tudo nos fará vitoriosos. Ele nos mostrará a força recriadora do perdão, a vitória do bem sobre o mal.

Sempre que celebramos a Eucaristia, nós encontramos o Senhor e esse encontro é para nós fonte de imensa alegria. Encontramos o Senhor no testemunho dos irmãos, que com a sua presença e participação nos dizem que também na vida deles o Senhor é a paz. Encontramos o Senhor na Palavra, no Pão e no Vinho, Ele mesmo se torna para nós alimento na peregrinação.

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